Clube de Leitura: Quem sou eu?

Falta menos de um trimestre para o fim do ano 2012. Para os líderes da Igreja, 2013 já é assunto da pauta da comissão. As pessoas já estão cansadas das atividades acumuladas, os alunos ansiosos com o fim das aulas… todos anseiam um novo ano em que tentarão mudar alguns hábitos mais uma vez.

Que tal incluir, como uma das metas, desenvolver gosto pela leitura? Sabemos que essa é uma tarefa árdua, mas que tem resultados muito benéficos para os desbravadores! Semana passada vimos AQUI algumas dicas gerais sobre o incentivo à leitura, mas a partir dessa semana iniciamos oficialmente a nossa seção Clube de Leitura.

Para essa seção, convidamos alguém muito especial para compartilhar seus conhecimentos conosco. Denis Cruz vai publicar por aqui dicas de livros e contos para incentivar a leitura dos desbravadores, começando agora mesmo! Ao final, o conselheiro encontra um plano de leitura, com as atividades propostas para aquele conto. [Conheça o perfil do Denis na página da nossa Equipe].

Reserve um tempo no seu cantinho da unidade para essa atividade, pelo menos, uma vez a cada 15 dias. Se possível, reserve um espaço semanal para o Clube de Leitura no programa da sua reunião regular. Você verá a diferença que essa prática vai causar na vida dos seus desbravadores. Depois contem para a gente como foi… Boa leitura!

Quem Sou Eu

Um conto de Denis Cruz 

Quem sou eu? Para responder a essa pergunta tão simples eu teria que contar, primeiro, quem eu fui e, só então, poderei dizer quem sou. Tenho boas memórias sobre minha infância. Tive bons pais, estudei em boas escolas, usei roupas da melhor qualidade e sempre aproveitei bem a vida. Lembro-me das baladas com os amigos. Altas festas. Era bom demais.

Meu primeiro porre foi aos quatorze anos. Uma comédia. Foi numa festa de quinze anos de uma amiga da escola. Eu bebi tanto que vomitei na vasilha do ponche. Até hoje meus amigos contam essa história. Foram eles que me deram banho, café amargo e me levaram pra casa. Meus pais nem desconfiaram.

Não me lembro do que aconteceu exatamente, só sei o que o pessoal me contou. Eu nunca havia bebido nada e acho que gostei do sabor do ponche.

Depois daquele dia, comecei a sair mais com os amigos e sempre alguém dava um jeito de levar uma bebida. Cerveja, uísque, vodka, sempre havia alguma coisa pra animar a festa.

Eu obedecia meus pais e resistia às insistências dos meus amigos. Mas não é fácil ser alvo dos sarros de amigos e, após muita insistência, eu sempre dava a primeira “bicada” numa cervejinha. Era a última coisa que eu via, o resto da história só ficava sabendo pelos comentários dos amigos na escola, no outro dia.

Era sempre aquela comédia: ou eu tinha dançado com a avó da aniversariante, urinado no vaso de flor, ou vomitado no tapete da sala, beijado o cachorro na boca, ou coisas que nem me contavam, só riam em um coro interminável. De toda forma, eu amava isso, pois sempre era o centro de todas as atenções.

Assim vivi até uns 18 ou 19 anos, sempre só na cervejinha, pois ela era mais fácil de “controlar”.

Na minha festa de formatura de segundo grau, resolvi dar-me um presente: eu iria experimentar um bom uísque. Um amigo comprou um dos melhores, serviu meu copo: uma dose completa, com um cubo de gelo dentro. Degustei em um grande gole. Foi como colocar uma gota de sangue na língua de um tubarão. Se eu fechar os olhos posso sentir o sabor e o cheiro daquele gole. Depois disso eu não me lembro de mais nada. Acho que há coisas que nossa memória faz questão de esquecer.

Eu achava que gostava de cerveja, mas posso afirmar: para mim, bebida fermentada não é nada; a destilada é tudo.

Minha vida era simples: de dia ajudava meu pai na loja e de noite, festa e mais festa. Meus pais não entendiam muito bem o que estava acontecendo, pois sempre julgaram ser algo da juventude e que logo eu teria maturidade suficiente pra abandonar toda aquela baderna.

Recordo-me, também, de quando minha filha nasceu. Eu tinha uns 22 anos, minha namorada havia engravidado, nós assumimos. Bem, pra dizer a verdade, nossos pais nos assumiram, pois nenhum de nós tinha independência financeira e precisamos ir morar na casa do meu pai.

No dia em que a pequena Milena ia nascer, fiz questão de não beber nada, pois queria estar cem por cento presente em cada momento do que ia acontecer.

No hospital, enquanto esperava pelo parto, eu tremia e suava frio. Minha boca estava seca. Sentia uma sede terrível. Era muita emoção. Precisei sair pra tomar um ar e só retornei duas horas depois, após ter quase esvaziado uma garrafa de vodka na conveniência perto do hospital.

Lembro-me de que as enfermeiras não queriam que eu entrasse, mas consegui me livrar delas e sair correndo pelo corredor do hospital gritando: “Milena, Milena, você nasceu minha filha?” Parei em frente ao quarto onde minha esposa estava, mas alguém trancou a porta por dentro. Eu só queria ver a Milena. De joelhos, eu esmurrava a porta, chorava e gritava o nome da minha pequena. Que gostoso, eu podia ouvir o chorinho dela vindo de dentro do quarto. Eu só queria ter sido o primeiro a pegá-la no colo e ver aquele rostinho de anjo…

Milena… eu sinto saudades dela. Meu casamento durou pouco. Uns três anos, talvez. Minha esposa não aceitava meu apreço pela bebida. Mas tudo bem, separações fazem parte da vida.

Eu podia ver minha filha aos fins de semana, conforme combinamos, mas depois perdi esse direito, pois num domingo bati o carro com a Milena dentro. Ela quase morreu. O Juiz do caso acreditou na versão de que eu estava dirigindo bêbado.

Mas eu ainda podia ver a Milena no apartamento da minha ex-esposa. Porém, também perdi esse privilégio num dia que apareci lá no meio da semana, vindo de uma festa. Eu arrombei a porta e joguei minha filha nos ombros dizendo que a levaria pra junto de mim para sempre. Ela chorava, mas eu dizia pra não se preocupar, pois eu a protegeria.

Minha ex tentou tirá-la dos meus ombros, mas bati nela. Depois disso, perdi o direito de me aproximar da minha filha. Tenho que manter uma distância de trezentos metros dela.

Milena… sinto saudades… Faz três anos que não posso olhar nos olhos da minha filha.

Eu destruí parte do patrimônio da minha família. Eles gastaram muito comigo, na maioria das vezes pra me tirar da cadeia por causa de uma série de infrações.

Meu pai e minha mãe ficaram ao meu lado até não terem mais forças pra me suportar. Eu matei até mesmo as esperanças deles.

Na minha vida eu já fumei, eu já cheirei, mas no meu sangue nada tem mais efeito do que o álcool. É como se eu tivesse uma sensibilidade pra ele.

Alguns aprendem a amar o álcool. Eu acho que já nasci com esse amor em meu sangue. Com o álcool eu chego ao meu oitavo céu, mas, quando eu acordo, me vejo no oitavo círculo do inferno.

Às vezes, acordo em uma poça de lama, ou no canto da calçada, todo sujo e fedido. Já acordei em uma delegacia, em hospitais ou rodeado de um bando de drogados.

Há duas horas, eu ia me matar, mas a campainha tocou antes que eu puxasse o gatilho. Era meu amigo Mauro. Ele me pegou pelo braço e me trouxe aqui. Falou-me de Deus e disse que poderia ser minha última chance de viver decentemente.

Quem sou eu? Acho que agora posso responder: eu me chamo Lúcio Dias Júnior, tenho 32 anos de idade, estou agora sentado em uma cadeira de reuniões dos Alcoólatras Anônimos e, pela primeira vez na minha vida, reconheço que sou alcoólatra.

PROJETO DE LEITURA

Público alvo: Classes de Pioneiro, Excursionista e Guia

Tema: Relacionamento familiar, álcool, vício

JUSTIFICATIVA

O álcool é a droga lícita mais difundida entre os jovens. Mesmo havendo proibição legal de venda a menores, é bem comum festas regadas livremente com bebida alcoólica.

O álcool tem sido o vilão, também, em acidentes de trânsito e pesquisas apontam como um dos grandes responsáveis por muitas das fatalidades das estradas.

É necessário, assim, que o jovem compreenda os riscos do consumo de álcool e qual a melhor recomendação quanto ao seu uso: a abstenção.

OBJETIVOS

Entender os malefícios do consumo de álcool (na sociedade e na família).

Entender os riscos do consumo de álcool.

Compreender o que é um alcoólatra e quais seus desafios.

Concluir sobre a melhor postura do jovem diante do álcool.

SUGESTÕES DE ATIVIDADES

  1. Pesquisar sobre alcoolismo.
  2. Pesquisar sobre centros de recuperação para alcoólatras.
  3. Pesquisar estatísticas atuais sobre acidentes de trânsito ocorrido por causa de consumo de álcool.
  4. Pesquisar sobre o limite legal de idade para compra/venda de bebida alcoólica.
  5. Pesquisar sobre a taxa de tributação sobre bebida alcoólica.
  6. Pesquisas sobre a Lei seca em algumas cidades.
  7. Ler o texto e propor as seguintes questões:
    1. O personagem central reconhecia ser um dependente de álcool ou achava tudo bom e normal? Explique.
    2. O personagem central obteve tratamento para sua dependência? Este tratamento surtiu resultado?
    3. Quando começou a dependência do personagem central?
    4. A família teve culpa ou tentou ajudar?
    5. Quais os efeitos do álcool na vida do personagem?
  8. Após a leitura, propor um debate, sugerindo-se as seguintes questões:
    1. Por quê o álcool é liberado, mesmo sendo tão prejudicial?
    2. Uma dose apenas tem problema?
    3. Como tem sido os resultados em cidades que adotaram a Lei seca depois de determinada hora?
    4. Você conhece algum alcoólatra? Pode compartilhar a experiência dele?
    5. Por que o álcool atrai tanto o jovem?
    6. Por que as propagandas sobre álcool são tão atrativas e utilizam, especialmente, a sensualidade e o humor?
    7. Qual a melhor postura que devemos tomar diante do álcool?
  9. Fazer um JURI SIMULADO (ÁLCOOL NO BANCO DO RÉUS – Culpado ou inocente), dividindo os papéis entre os alunos: jurados, testemunhas, juiz, promotor (acusará o álcool), advogado (defenderá o álcool), etc.
Clique AQUI para baixar o conto e AQUI para baixar o plano de leitura.

 

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