Neurônios-espelho???

Quase todos sabem que Brasília é a capital dos concursos públicos. Por aqui a maioria das pessoas sonham com a aprovação. Assim, obedecendo à lei da demanda e da oferta, surgem vários sites sobre o assunto. É claro que tem muito lixo, mas alguns são mais confiáveis.

É o caso de um site de um juiz que se dedicou a estudar os processos cognitivos afim de ajudar outros a também conseguirem aprovação. Não sou uma “concurseira”, como se denominam aqueles que vivem para estudar para um concurso, mas o título de um artigo me chamou muito a atenção: Quem você imita? A influência dos neurônios-espelho!

Fiquei curiosa e resolvi ler. O autor fala de como é importante, durante a preparação para concurso, tomar cuidado com o tipo de pessoa que o candidato se associa. Ele aponta estudos que demonstram que há um processo neurológico que leva as pessoas conscientemente ou não imitarem outros com os quais convivem. Há inclusive referências bibliográficas que fundamentam o tema: Segundo esclarece o grande neurocientista Eric Kandel, “…Rizzolatti chamou esses neurônios de ‘neurônios-espelho’ e sugeriu que eles fornecem a primeira pista para compreendermos a imitação, a identificação, a empatia e possivelmente a capacidade de imitar vocalizações – os processos mentais intrínsecos à interação humana…” (Em busca da memória. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 456).

É claro que resolvi investigar o assunto por mim mesma e também encontrei vários artigos sobre o assunto. Um deles, de uma revista da USP, traz a seguinte declaração: “Os neurônios espelho foram associados a várias modalidades do comportamento humano: imitação, teoria da mente, aprendizado de novas habilidades e leitura da intenção em outros humanos (Gallese, 2005; Rizzolatti, Fogassi, & Gallese, 2006) (…). Além disso, considerando que a capacidade humana de abstrair intenção a partir da observação de conspecíficos é considerada crucial na transmissão de cultura (ver revisão em Tomasello, Carpenter, Call, Behne, & Moll, 2005), a descoberta dos neurônios-espelho é de importância fundamental para compreendermos o que nos faz diferente de outros animais, em termos cognitivos.” (http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S1678-51772006000400007&script=sci_arttext).

Impressionante, não é mesmo? É, mas o assunto não é nenhuma novidade. A mensageira do Senhor, Ellen White, há mais de um século atrás, muito antes das tomografias computadorizadas e das modernas pesquisas, já havia escrito:

Pela constante contemplação de temas celestiais nossa fé e amor se fortalecerão.(Mente, caráter e personalidade, v. 2, p. 406). Uma contemplação reverente de assuntos como esses [o sacrifício de Jesus] não pode deixar de abrandar, purificar e enobrecer o coração, e ao mesmo tempo infundir no espírito nova força e vigor. (Mensagens aos Jovens, p. 263).

As Conseqüências da Leitura de Ficção. Tenho observado crianças a quem se permitiu crescerem dessa maneira. Seja em casa, seja fora, elas ou estão desassossegadas ou sonhadoras, e são incapazes de conversar, a não ser acerca dos assuntos mais comuns. As mais nobres faculdades, as que se adaptam às mais altas realizações, foram rebaixadas à contemplação de assuntos triviais, ou ainda piores, até que a pessoa se satisfaz com esses temas, mal podendo alcançar qualquer coisa mais elevada.(Mensagens aos Jovens p. 279)

Vocês conseguem notar como isso é assustador?! O que esses textos tão diferentes um do outro dizem é a mesma coisa!!! Nosso comportamento, nossa personalidade e até mesmo nosso caráter é influenciado pelo tipo de situações a que nos expomos. Esse tipo de preocupação não é só de uma senhora religiosa do século passado. Um juiz, que talvez nem tenha religião, alerta aos candidatos que as influências externas podem atrapalhá-los a conquistar o cargo que tanto anseiam. Isso inevitavelmente nos leva a pensar em que tipo de coisa estamos contemplando através da convivência com as pessoas, com os filmes que assistimos ou os livros que lemos.

Ainda cético? É só observar como várias pessoas vão perdendo o sotaque depois que saem da sua terra natal. Alguns nem precisam de muito tempo viajando para “pegar” o sotaque dos outros. Outro fato já percebido pelos grandes empresários, as coisas que aparecem nas novelas viram “febre”, pode ser uma cor, uma roupa ou até uma frase.

Essas coisas são simples e são as que conseguimos notar, mas a contínua exposição a certas imagens ou atitudes vão gradualmente mudando a programação cerebral do indivíduo. Pouco a pouco vamos ficando mais tolerantes à violência, à imoralidade e à maldade comum em tudo.

Pense nos filmes que você assiste, se você praticasse atitudes semelhantes às dos personagens principais, você estaria seguro? Ou se você se comportar de forma semelhante às pessoas com quem você mais convive, ainda assim você estará no caminho do céu?

Precisamos ter isso em mente quando vamos escolher nossos entretenimentos, nossos amigos e até mesmo nosso local de trabalho! Não podemos controlar a recepção desses estímulos neurológicos, a única segurança está em evitar se expor a situações que você não gostaria de imitar.

Agora faço uma pergunta ainda mais difícil, se o seu desbravador te imitar (e ele faz isso, às vezes, deliberadamente) como será a vida dele? Ele será um estudante dedicado? Como será o relacionamento com a família dele? Que tipo de cristão ele será?

Vamos pensar nisso!

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2 ideias sobre “Neurônios-espelho???

  1. Caramba, que post ótimo. Realmente não há muita novidade em relação ao tema mas em tempos de ceticismo ao empírico encontrar um estudo como esse viabiliza argumentos para debates cristãos de uma infinidade de temas. Enfim, o “me diz com quem tu andas” esta mais científico que nunca.
    Parabéns.

    • Realmente, Junior, como bem disse Ellen White, “toda verdadeira ciência está em harmonia com Suas obras; toda verdadeira educação conduz à obediência ao Seu governo. A ciência desvenda novas maravilhas à nossa vista; faz altos vôos, e explora novas profundidades; mas nada traz de suas pesquisas que esteja em conflito com a revelação divina”. (Patriarcas e Profetas, p. 115).

      Um abraço.

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