Dilúvio universal e suas implicações

Amigos, mais um post do Michelson sobre dilúvio (em continuação àquele postado no dia 31) que pode nos ajudar ainda mais na instrução da classe de Pioneiro.

Aproveitem!

Em reação à postagem “Montanha chinesa tem mais de 20 mil fósseis marinhos”, recebi o seguinte e-mail de um amigo leitor: “Prezado Michelson, segundo seu pensamento, os animais foram soterrados de forma abrupta, sob lama e sedimentos. Mas, se assim fosse, [1] não seria lógico encontrarmos sítios com manadas inteiras, ou várias espécies reunidas? Por que isso não acontece? [2] Se Deus fez chover durante quarenta dias de tal forma que inundou o mundo todo, teria que ser um volume incrivelmente grande de água. A Bíblia fala de chuva, não de tromba d’água. Pois se fosse algo tão violento nem a arca suportaria. [3] Temos outra questão: Para onde a água escoou? [4] Como os cangurus e outros marsupiais que só existem na Austrália chegaram lá, se foram desembarcados no monte Ararate? [5] Quando os animais da arca desembarcaram, viveram do quê? Sendo que se um leão comesse ao menos uma zebra, adeus zebras. Fora a dificuldade de se locomover no meio de toda aquela lama. [6] Partindo também dessa premissa, deveríamos encontrar muito mais fósseis marinhos, agrupados, em altas montanhas do que são encontrados hoje. Explicaria o porquê das ossadas de baleias e outros seres marinhos, mas e os crustáceos que vivem no solo, foram parar lá como? [7] Reconheço que os criacionistas têm feito um esforço enorme para torná-lo uma ciência, mas para isso devem seguir as premissas da ciência não da fé. Abraço. R.”

Como acredito que essas perguntas são de interesse mais ou menos geral e que é relativamente fácil respondê-las sob a ótica criacionista, vou aproveitar para tornar públicas as respostas que daria por e-mail ao amigo R. (Na quarta edição revista e ampliada do meu livro A História da Vida, que deve ser publicada nas próximas semanas, dedico um capítulo ao assunto do dilúvio e outro aos dinossauros. Ali essas questões são tratadas de modo mais aprofundado.)

1. Na verdade, a própria existência de milhões de espécimes fossilizados em todo o mundo evidencia que houve uma grande catástrofe hídrica que causou esse sepultamento repentino, preservando tantos animais (alguns deles enormes) em situações que realmente apontam para o elemento surpresa: há fósseis preservados em 
estado de agonia e sufocamento; alguns têm alimento não digerido no estômago e há até animais sepultados em pleno ato de dar à luz. Diferentemente do que o leitor sugere, sítios com manadas inteiras foram encontrados, sim. Confira aqui e aqui

2. Existem pesquisas não criacionistas que já admitem inundações catastróficas (confira aquiaqui e aqui). Com relação à quantidade de água para cobrir toda a Terra, o grande erro de muitos é pensar que seria necessário um volume tal que fosse capaz de submergir os 8.850 metros do Monte Everest. Esses grandes montes e cordilheiras não eram tão altos no passado e, tendo em vista as transformações catastróficas observadas em tempos recentes, podem ter se elevado em tempo relativamente curto. Isso explica a existência de fósseis de animais marinhos no alto dessas montanhas: quando foram fossilizados, não estavam lá no alto. Se não foi assim, qual seria a explicação? Baleias fossilizadas no alto de montanhas? É bom lembrar que, segundo os criacionistas, a topografia antediluviana era suave, com colinas não muito elevadas, e que pouco tempo após o dilúvio, homens planejaram construir uma torre que pudesse protegê-los de uma eventual nova inundação. Se eles pensavam que isso era possível, certamente as águas do dilúvio não devem ter se elevado a alturas absurdas, como alguns pensam. Quanto à arca, certamente a proteção dela deve ter sido garantida pelo poder de Deus, mesmo assim, segundo estimativas de engenheiros, ela seria capaz de suportar ondas de várias dezenas de metros.

3. A água do dilúvio escoou para as grandes depressões formadas pelas pressões geológicas durante e após o dilúvio. Fossas como a das Marianas têm milhares de metros de profundidade. Imagine quanta água podem conter. 

4. Como os cangurus chegaram à Austrália a partir do Ararate? Talvez eles nem tenham estado na arca… Como assim? Criacionistas admitem os efeitos da microevolução e do isolamento geográfico. Na verdade, muitas “espécies” de animais não estiveram na arca, pois surgiram depois. Exemplos: vários tipos de cães e gatos atuais. Além disso, qual era a etnia de Noé e de seus filhos? Certamente, todos os tipos de etnias humanas modernas derivaram dessa família que foi salva. O movimento tectônico que afasta os continentes (ou os aproxima) uns dos outros é tido pelos criacionistas como um fenômeno decorrente do dilúvio. Assim, a Austrália não existia no passado remoto da Terra; ela fazia parte do mega-continente conhecido como Pangeia. Resumindo: ou os ancestrais dos cangurus migraram para a região que hoje é a Austrália e acabaram ficando isolados lá, sofrendo modificações, ou nem sequer entraram na arca e surgiram posteriormente a partir de microevolução de uma espécie ancestral. 

5. Durante os dias do dilúvio, com pouca luz e temperatura mais baixa na arca, é possível que muitos dos animais tenham hibernado, o que facilitaria o trabalho de alimentá-los. Assim, é possível que muito do alimento estocado (sementes, frutas secas e feno, suponho) tenha sobrado para alimentá-los durante algum tempo após a inundação. É bom lembrar também que a arca somente foi aberta quando a terra já estava seca e que havia plantas brotando mesmo antes disso (a pomba com o ramo de oliveira atesta isso). Leões muito provavelmente não comiam zebras nessa época (pelo que indicam pesquisas recentes, a maioria dos dinossauros tidos como carnívoros também eram vegetarianos).

6. Na verdade, fósseis marinhos em áreas continentais e em montanhas são encontrados em todo o mundo. Grande parte dos sedimentos continentais são de origem marinha, conforme referências presentes em meu livro A História da Vida.

7. Criacionistas e evolucionistas se valem igualmente do método científico. A diferença está na filosofia ou cosmovisão por trás dos modelos: enquanto os criacionistas aceitam a historicidade do relato bíblico de Gênesis, os evolucionistas se pautam pelo naturalismo filosófico.

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