Arquivo | novembro 2010

A ética e a estética de Avinu Malkenu

(Joêzer Mendonça, Nota na pauta)

Quando ouvi o CD Avinu Malkenu pela primeira vez, estranhei do jeito que se estranha uma novidade. Apesar da beleza do propósito, tudo me pareceu fora de lugar. Dias depois, ouvi o cd outra vez, e me vieram à mente apenas duas palavras: diálogo e origem.

A intenção dos produtores do CD (Leonardo Gonçalves e Edson Nunes Jr) é a busca de diálogo com outras culturas, com outras pessoas, ligadas ou não a uma religião. Mas esse diálogo é estabelecido com um profundo arraigamento à própria identidade religiosa. A busca de diálogo é feita a partir da raiz. Não por acaso, a capa do CD é uma raiz. E uma raiz cresce, vira planta, vira árvore, aparece junto com outras árvores, forma floresta, mas seu tronco, suas folhas e seus frutos são só as partes visíveis da raiz que deu origem a tudo o mais.

Algumas das músicas de Avinu Malkenu estão enraizadas na tradição litúrgica do judaísmo. Ao mesmo tempo, algumas de suas letras enfatizam aspectos do cristianismo, particularmente do adventismo. Alguns arranjos reverberam a música tradicional ibérica e a música clássica européia. A menção à Páscoa, uma festa judaica milenar, está ao lado da ênfase moderna ao “Temei a Deus e dai-Lhe glória / pois é chegada a hora do Seu juízo”. O Êxodo vai desaguar no Apocalipse.

Letras de grande sugestão poética (“o ar das montanhas, límpido como vinho e o perfume dos pinheiros / é carregado pela brisa do crepúsculo em meio aos sons de sinos / e na sonolência de árvore e pedra se acha cativa em sonho / a cidade que se assenta solitária”) são seguidas de uma canção de uma frase apenas (“ano que vem em Jerusalém”).

Diálogo e raiz permeiam cada música desse CD. Isso está na regravação de canções de músicos nascidos em Israel e na composição de canções inéditas ao estilo judaico por músicos cristãos brasileiros. Está no arranjo de piano e cordas para “Nachamu Nachamu” com alusão ao Prelúdio em Dó Sustenido menor, opus 3, nº 2, de Rachmaninoff, e no arranjo de populares toques mouros/ibéricos para “L’shana habaa”. Está na voz falada quase monocórdica na abertura de “Osse Shalom” em contraste com as vozes harmoniosas do canto a capella em “L’cha Dodi”.

Costuma-se dizer que o Brasil foi formado por três raças tristes: o português exilado da metrópole, o índio retirado da aldeia e o negro desterrado da África. O judeu é a quarta “raça triste”. O povo judeu é um povo que se espalhou e foi espalhado. Longe de casa, suas canções ficaram carregadas de saudade. Mas seu larguíssimo histórico de diáspora, de preconceitos, de expulsões e boas-vindas, de tragédias coletivas, não se traduz em melancolia. Na música tradicional judaica, a tristeza não é sem fim. À frente, há felicidade, sim.

Isso faz com que as canções, que começam plenas de contrição, como se o cantor estivesse coberto por um saco de cinzas, mudem pouco a pouco para um andamento mais rápido, mais alegre, como se o cantor visse o céu aberto diante de si. Uma coisa é reconhecer o pecado e ter o senso da radical diferença entre a impureza do homem e a santidade de Deus. Outra coisa é saber-se perdoado e ter a certeza do cumprimento das promessas de Deus.

A canção judaica sai da tristeza para a alegria, da contrição para a salvação, do pecado para o perdão, da terra finita para a vida eterna.

Para o judeu, Jerusalém não é uma cidade, é um estado de espírito. Na canção “Yerushalayim shel zahav” o cantor diz: “Jerusalém de ouro, e de bronze, e de luz / para todas as tuas canções eu serei um violino”. A distância aumenta a saudade, mas não diminui a esperança: “Ainda se ouvirá nas ruas de Jerusalém a voz de júbilo e a voz de alegria da noiva e do noivo” (na canção “Od yishama”). Mesmo presente na cidade, mal encerrada uma festa (a Páscoa), já se canta “ano que vem em Jerusalém”.

A primeira música chama-se “Avinu Malkenu” (em português: “nosso Pai e nosso Rei”). Alguns cristãos falam apenas da soberania do Rei e não enxergam a Deus como Pai amoroso. Outros fazem exatamente o inverso e só vêem a graça do Pai. A primeira música do CD já introduz o conceito bíblico de Deus, um Ser que é Rei da justiça e Pai da bondade.

A segunda música, “Adon olam”, parece extensão da primeira. O tema da soberania transcendente de Deus é reiterado (“Mestre do universo”, “Ele é Um e não há outro”) em conjunto com a imanente misericórdia divina (“Rocha das minhas dores no momento da angústia”).

Leonardo Gonçalves capturou não apenas o virtuosismo da voz judaica cantada: seus melismas  se integram à paisagem natural da música. Ele também compôs duas músicas que poderiam ter sido feitas por alguém nascido e criado na tradição musical judaica: “Avinu shebashamayim”, a oração do Pai-Nosso, e a comovente “Nachamu Nachamu” (Consolai, consolai), palavras de conforto aos filhos de Deus extraídas de Isaías 40:1-3.

Enquanto o Pai-Nosso é a invocação de Deus feita pelo homem, “Nachamu” é a voz de Deus aos homens. Uma apresenta as dívidas impagáveis, a outra outorga o crédito imerecido. Uma pede, a outra consola.

“Nachamu nachamu” tem um formidável arranjo de cordas de Ronnye Dias e um piano (de Wendel Mattos) de cortar o coração. Ouvir a música sabendo a tradução da letra – “voz que clama no deserto, preparai o caminho do Senhor, endireitai no ermo vereda a nosso Deus” – transmite a sensação de estar no meio do povo ouvindo um antigo profeta advertir Israel com lágrimas nos olhos.

Nenhuma cultura está pronta e acabada para sempre. As expressões culturais são dinâmicas, se renovam ao agregar influências de outras culturas. A música judaica influenciou a música ibérica de 10 séculos atrás, fazendo surgir a tradição musical moura. Por outro lado, músicos judeus longe de Israel absorveram a cultura local para renovar a tradição. Assim, ouvindo a festiva canção “L’shana habaa” percebe-se a raiz da música moura/ibérica e como sua percussão está a um passo da música caribenha.

Nesse contexto de interação cultural, ouvimos o shofar e o alaúde e também o piano elétrico. Ouvimos a tradição no estilo de Uzi Hitman, compositor de “Adon olam”, e também a modernidade de Nurit Hirsh, regente e também compositora de mais de mil canções, autora de “Osse shalom”, originalmente composta para um festival de Música Chadíssica, de 1969, que se tornou parte da liturgia em sinagogas e comunidades judaicas no mundo inteiro.

A simplicidade melódica das canções esconde a sofisticação dos arranjos. André Gonçalves (irmão de Leonardo), Ronnye Dias, Wendel Mattos, David Maia, Samuel Krahenbühl e César Marques trabalham como artífices a serviço da carpintaria musical.

Na quarta canção do CD, há um belo arranjo orquestral em que as cordas vão se sobrepondo e dialogando com a voz principal da música. Já a música “L’cha dodi” abre o diálogo com o modo clássico-erudito de compor para vozes. Ao final, a canção é cantada a capella e a melodia recebe uma harmonização vocal requintada.

“L’cha dodi” é uma música tradicional que, num CD gravado por um adventista do sétimo dia, revitaliza as raízes e constrói pontes. É uma canção que antecede o shabat, fazendo parte do serviço religioso chamado “Cabalat Shabat” (Recebimento do sábado). No início, a canção diz: “A ordem ‘lembra-te e observa’ foi pronunciada de uma só vez / o D-s único no-la fez ouvir”. E mais adiante:“Vamos ao encontro do shabat, pois ele é a fonte da benção / estabelecido desde o princípio / foi a conclusão da criação / mas, no planejamento, o início”.

Quantas músicas são tão assertivas assim em relação ao sábado? Como esta canção é cantada em hebraico e faz parte da tradição judaica, ela parece comum. Mas no contexto da apologia sabática, me arrisco a dizer que ela é singular.

O diálogo com o adventismo corresponde a uma volta às origens bíblicas também na questão fundamental da lei de Deus. A oitava música do CD transcreve os versos de Apocalipse 14:7 e 12. E aí está a mais perfeita tradução da ética desse CD: o diálogo interreligioso que não perde a identidade original. O adventismo de Leonardo Gonçalves não foi diluído na música judaica. Ao contrário, a cultura musical está a serviço da identidade religiosa de missão.

Juízo, reconhecimento de um Criador literal (“adorai aquele que fez”, isto é, o Criador), e a citação “aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Yeshua”: a coragem de afirmar tais distinções doutrinárias só pode vir de uma honesta convicção pessoal.

E por que obedecer aos mandamentos? A canção “V’haer enemu” responde:“apega nosso coração aos Teus mandamentos / a fim de não nos envergonharmos e sermos humilhados / e não virmos a fracassar para todo o sempre”.

Na penúltima música do CD, composta por André R. S. Gonçalves, os trechos selecionados de cada estrofe ressaltam quatro pontos importantes:

– a graça divina: “a Tua ira se retirou e Tu me consolas”;

– a salvação: “eis que D-s se tornou a minha salvação”

– a missão de levar a mensagem ao mundo: “fazei notório Seus feitos entre os povos / contai quão excelso é Seu nome”

– a adoração como resposta aos atos de Deus: “cantai ao Senhor porque fez coisas grandiosas”.

Um dos versos da canção diz: “porque o Senhor é a minha força e o meu cântico”. Isso é como dizer: o Senhor é meu mandamento e minha música, a minha ética e a minha estética.

A estética é finita, limitada. A ética bíblica é eterna. A melodia (a estética do homem) muda enquanto a Palavra (a ética de Deus) não muda. Os músicos cristãos costumam unir a estética das culturas humanas à ética bíblica. A diferença em “Avinu Malkenu” é que sua ética está na busca de diálogo sem perder as raízes ao passo que sua estética reforça uma volta às origens sem temer o diálogo. Que cresça e dê frutos.

*****

P.S. para um músico: Wendel Mattos faleceu há poucos dias. Um trecho de “Adon olam” diz: “Nas Suas mãos eu depositarei o meu espírito no momento do sono, e então despertarei”. Não o conheci pessoalmente, mas posso dizer que para nós, que o perdemos, parece que uma longa e desafinada estrada ainda nos separa do reencontro. Mas para Wendel, seu descanso em Deus é apenas uma brevíssima e silenciosa pausa antes dos acordes sinfônicos da ressurreição que virá um dia para os que dormem no Senhor.

Manuais das Classes Regulares

Em 1999 a Divisão Sul Americana trouxe para os seus países os manuais das Classes Progressivas (na época), hoje Classes Regulares. O material foi traduzido do original em inglês.

Infelizmente, foi a primeira e única edição. As Classes já foram reformuladas umas três ou quatro vezes desde então e os manuais permaneceram inalteráveis. O conteúdo é excelente, é realmente um suporte para o instrutor da classe. Muitos requisitos ainda são os mesmos, portanto, eles ainda são de grande ajuda para o movimento atual. Já os que mudaram, cabe a nós líderes procurar material para suprir a falta, o que de fato vem acontecendo.

O Blog Mundo Desbravador fez um trabalho de digitalização e disponibilizou os arquivos em PDF. Segue o link para baixá-los:
Amigo
Companheiro
Pesquisador
Pioneiro
Excursionista
Guia

É isso. Se alguém tiver mais algum material sobre a instrução das classes, compartilhe.

 

Os segredos da longevidade

Estamos no final de mais um ano. As investiduras estão chegando e estamos na reta final da instrução das classes.

O cartão de pioneiro tem o seguinte requisito: Debater as vantagens do estilo de vida Adventista de acordo com o que a Bíblia ensina. Para ajudá-los na instrução desse requisito não deixem de ver essa reportagem do SBT Realidade sobre os adventistas de Loma Linda, Califórnia.

A National Geographic de novembro de 2005 também publicou um artigo sobre esse mesmo grupo de Loma Linda. É um pouquinho antiga, mas já que estamos falando de longevidade mesmo…

Download

Os Segredos da Longevidade – National Geographic – Download 

Bem-vindos!

Como post inaugural, gostaria de compartilhar com vocês a seguinte reflexão:

Salvar do Pecado e Guiar no Serviço

“Salvar do pecado e guiar no serviço”. Esse tem sido o objetivo que repetimos todas as reuniões por muitos anos. Mas o que realmente nós estamos fazendo para tornar esse objetivo prático? O que estamos fazendo para salvar os desbravadores do pecado e guiá-los no serviço de Deus?

Um líder de desbravadores não é apenas um líder para o Clube. Ele é um líder da Igreja. Logo, deve ser exposto a situações que realmente o faça desenvolver seu espírito de liderança, para que quando a Igreja e Deus precisar, ele possa responder: “Eis-me aqui SENHOR”.

O Clube de Desbravadores deve ser um instrumento de salvação. A classe bíblica deve ser funcionante. Se o Clube não está cumprindo o objetivo de salvar almas, deve rever seus conceitos. Todos os membros da diretoria devem ter uma vida de comunhão, principalmente os conselheiros, que atuam diretamente com os desbravadores! Eles são o exemplo das crianças, por isso devem refletir o caráter do grande Líder.

Se todos os membros do Clube já são adventistas, então devemos buscar os que ainda não são. Onde? Nas escolas, por exemplo. Com um bom projeto, podemos fazer o convite para algumas escolas da região. Estamos perdendo muitas crianças para o mundo e muitas delas nem têm o que fazer nos finais de semana, usando seu tempo para coisas fúteis.

Então vamos unir o útil ao agradável e, inspirados por Deus, oferecer a esses garotos o melhor presente que eles poderiam ganhar: Jesus. Mas para isso precisamos de uma equipe de diretoria muito bem preparada.

Não podemos nos esquecer: não estamos trabalhando para o Campo Local, para o pastor ou para o regional. Muito menos para as nossas Igrejas. Estamos trabalhando para Deus e Ele não admite em Seu time pessoas que não se empenhem na Obra que temos pela frente: “salvar do pecado e guiar no serviço”.

 


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